Em sua recente palestra no Brasil, Yuval Noah Harari desconstruiu a noção sobre quais habilidades serão valiosas no futuro. Frequentemente questionado sobre o que ensinar às novas gerações, o historiador sugere que muitos estão trilhando o caminho errado. A ideia de que “aprender a programar” é a chave para o futuro, por exemplo, é vista por ele como ultrapassada. Harari argumenta que, talvez em cinco anos, a inteligência artificial será tão proficiente que não haverá motivo para contratar programadores humanos.
O autor de "Sapiens" também revelou suspeitar que seu próximo livro possa ser o último. O motivo? A IA fará melhor. Ele projeta uma chance de 50% de que, dentro de cinco anos, as máquinas escrevam livros superiores aos seus ou produzam filmes melhores que os de Spielberg, chegando a 100% de certeza em cerca de 20 anos.
Esse prognóstico desafia a ideia de que a criatividade seria nosso refúgio. Se as habilidades técnicas (como programação) e as criativas (como a escrita) estão ameaçadas, o que resta? Segundo Harari, a vantagem humana se desloca para o que ele chama de “habilidades do coração”. O verdadeiro risco da IA, afirma, não está no mundo físico, que é complexo e cheio de restrições, como demonstram as promessas adiadas dos carros autônomos, mas na automação da burocracia, das finanças e da gestão da informação.
Para ele, as habilidades que consideramos “básicas” são justamente as mais difíceis de replicar. Nesse contexto, o profissional que apenas analisa dados ou executa tarefas padronizáveis é o mais vulnerável. Harari usou exemplos brasileiros, como a capoeira e o futebol, para ilustrar a integração entre corpo e mente que a IA não pode alcançar. Assim, o profissional do futuro não será o que apenas processa dados, mas aquele capaz de lidar com pessoas e com o espaço físico.
Outra questão abordada pelo autor é a gestão do tempo. Hoje, nosso cotidiano é marcado pelo ritmo acelerado e consumo constante de informação. “A verdadeira moeda da vida é o tempo. Se você não tem tempo, você é pobre. Não importa quanto dinheiro você tem”, reflete Harari.
O autor também alerta para a importância da confiança mútua. Ele adverte contra a tendência de migrar nossa confiança para os algoritmos, defendendo que o foco deve ser reconstruir os laços humanos.
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